quinta-feira, 23 de abril de 2009

Um modelo de abastecimento para carros elétricos

Suponhamos agora que os atuais postos de combustível passem a ser também postos de recarga e que as baterias sejam trocadas como um único conjunto, ou seja, os automóveis teriam trocadas as baterias descarregadas por outras com carga total, que ficam armazenadas em carregadores de grande porte nos próprios postos. Teríamos as seguintes vantagens:

  1. Eliminar-se-ia o tempo de recarga, pois, por mais rápido que a tecnologia permita repor a energia, sempre será num tempo maior que o de encher o tanque de combustível;
  2. Recarregadores pulsantes com controle lógico de grande porte são muito mais eficientes que os embarcados, reduzindo o tempo de recarga e maximizando o número de ciclos, além de impedir a auto-descarga pelo armazenamento, bem como detectar automaticamente o fim da vida útil dos acumuladores;
  3. As baterias seriam de propriedade do distribuidor de combustíveis, reduzindo significativamente o preço dos veículos, pois o custo delas, somado ao dos carregadores embarcados, atualmente, chega a 60% do seu valor total;
  4. Já que os acumuladores passariam a pertencer às atuais distribuidoras de combustíveis, seriam elas as maiores interessadas no avanço tecnológico dos capacitores e dos carregadores, seja em peso, em número de ciclos e em tempo de recarga, retirando este ônus da indústria automobilística;
  5. O sistema atual de distribuição varegista de combustíveis não veria a eletricidade como ameaça, porém, como oportunidade de negócio, principalmente porque a a rede de postos de combustível já está instalada;
  6. Minimizaria o investimento em distribuição, pois a estrutura de consumo doméstico permaneceria inalterada, enquanto os postos de recarga poderiam usar a rede de tensão industrial (380V ou 13kV);
  7. Os postos poderiam contar com sistemas alternativos de geração de energia, dependendo dos recursos disponíveis na região como, gás natural, gás metano produzido por lixões, placas fotovoltáicas, ou, na falta de qualquer alternativa mais limpa, por geradores, pois combustíveis é que não faltarão ali;
  8. A indústria automobilística já não precisaria preocupar com o avanço tecnológico dos sistemas de armazenamento e geração de energia elétrica, mantendo seu foco no desenvolvimento dos carros em si, preocupando-se, como hoje, em torná-los mais econômicos e eficientes, ou seja, reduzindo ao mínimo a relação a/km (amperes por quilômetro);
  9. As distribuidoras poderiam comprar energia de qualquer fonte, conforme as regras da ANEEL (PCH, usinas de cana-de-açúcar, eólicas, térmicas etc), contribuindo com o Plano Nacional de Produção e Distribuição de Energia, coisa fora do alcance do consumidor individual;
  10. A sempre presente oferta de baterias carregadas, além de deixar virtualmente ilimitado o raio de ação dos automóveis, reduziria o peso a carregar, deixando os veículos mais eficientes.
Descrevendo melhor o modelo, os carros elétricos teriam seu sistema de conectores padronizado, bem como o compartimento destinado às baterias, como um porta-pilhas de qualquer eletrodoméstico portátil. Para que fique ainda mais claro, as dimensões das pilhas é padronizada e não houve trauma industrial ou mercadológico algum por causa disso, pelo contrário, permitiu a livre concorrência. Prova disso é que as próprias baterias automotivas atuais têm medidas predeterminadas, caso contrário, não se conseguiria fixá-las em seus compartimentos. Baterias de 65Ah, por exemplo, são dimensionalmente idênticas, independentemente do fabricante.

Quanto à tensão ser padronizada, não há de haver problemas maiores, posto que os motores atuais já são limitados pelas características técnicas dos combustíveis que usam, assim como as baterias, sejam de que material for, terão sempre sua tensão determinada pela reação química que gera eletricidade. Mesmo assim, a padronização não seria absoluta, posto que, se, por exemplo, padronizarem-se os conjuntos em 96V e 100A no regime de 10h, um veículo que necessite de maior potência poderá fazer ligações em série, usando mais de um conjunto em seu compartimento porta-baterias.

No posto, subindo-se numa pequena rampa, retiram-se as baterias descarregadas com um carrinho hidráulico e colocam-se outras com carga total, pagando-se pela diferença de carga entre as primeiras e as segundas. O tempo de permanência no estabelecimento seria equivalente ao de encher um tanque de combustível. O pagamento seria feito em kWh, de sorte que o consumidor seria capaz de, como hoje, saber quantos kWh/km seu carro consome, bem como qual o custo/km, fatores essenciais na escolha do próximo veículo. Naturalmente, o preço do kWh será sempre definido pelo mercado e deverá amortizar o investimento feito pelo distribuidor em baterias, limitado, porém, pela livre concorrência.

Não nos podemos esquecer de que, além de abastecer, os postos prestam inúmeros outros serviços como borracharia, lavagem, reposição de pequenas peças, além de conveniências como alimentação e pequeno comércio paralelo, daí a ênfase em privilegiar o aproveitamento da estrutura atual de distribuição, mesmo porque, a adoção do automóvel elétrico será sempre paulatina.

Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva - Fone: (11)5841-2869

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